O queijo e os vermes

O historiador Carlo Ginzburg conta a história de uma figura interessante no livro "O queijo e os vermes". Menocchio é um moleiro do século XVI que propagava idéias muito a frente de seu tempo. Embora fosse de origem simples, exprimia no seu cotidiano uma cosmogonia eloqüente, considerada herege para a época: "... Tudo era um caos, isto é, terra, ar, fogo, e água juntos; e de todo aquele volume se formou uma massa, do mesmo modo como o queijo é feito do leite, e do qual surgem os vermes, e esses foram os anjos...", sugerindo que o mundo teria sido originado da putrefação.
Anterior a Lutero, Menocchio enfrentava a comunidade submissa à Igreja e também os padre e párocos, que o questionaram muitas vezes sobre seu modo intrigante de encarar a religião e a prática da fé: "Os padres nos querem debaixo de seus pés e fazem de tudo para nos manter quietos, mas eles ficam sempre bem (...) eu conheço a D´us melhor do que eles". E ainda: "Gostaria que se acreditasse na majestade de D´us, que fôssemos homens de bem e que se fizesse como Jesus Cristo recomendou, respondendo àqueles judeus que lhe pergutaram que lei se deveria seguir. Ele respondeu: 'Amar a D´us e ao próximo'." 

É um maravilhoso precedente de indignação ao recebimento passivo da cultura, imposta pelas classes dominantes.

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