A menina que devia ficar nas nuvens

 

  
A noite de sábado foi coroada por uma deliciosa brisa de verão petulante neste mês de Agosto. As pernas das moças estavam de fora e as bebidas geladas estavam vendendo bem. O Theatro Municipal de São Paulo, agora reformado, conseguiu ficar menor, aconchegando bem as pessoas que se acomodaram com olhares curiosos em todos os assentos do local. Estava, de fato, lotado.

Tanta expectativa logo arrefeceu quando o espetáculo começou. A menina das nuvens, de Villa-Lobos, é uma daquelas obras que se pode chamar "específicas". Eu gosto deste termo para definir leituras ou músicas excêntricas. E aí outro eufemismo. A verdade é que ele mesmo, quando a compôs, a definiu como "aventura musical". Acho que, desta forma, se resguardou das críticas.

O cenário era fabuloso, composto por nuvens e luas móveis onde os cantores, às vezes, sentavam-se e eram levados - e por falar nos cantores, muito competentes e experientes! -; a Orquestra Sinfônica Municipal, o coral e o maestro, Roberto Duarte, também conhecidos do público, fizeram um belo acompanhamento, que infelizmente não conseguiu salvar o espetáculo. Eles tentaram, pobrezinhos. Mas não rolou.

A apresentação se arrastou, acredito que por conta da musicalidade "excêntrica" e desencontrada entre a harmonia da orquestra e a melodia das vozes. Os cantores atuaram muito bem, mas o segundo ato conseguiu a participação do público, com seus "Zzzzz´s" quase em uníssono.

Para salvar, e ainda bem que no último ato, o diálogo - diálogo! outra chatice cansativa da aventura musical do Villa - entre a Menina Cacilda e a Lua foi muito rico musicalmente e visualmente. As pessoas acordaram.

E para finalizar, o trecho que deveria, ou poderia, se quisesse, sensibilizar o público apelando para o senso comum, não convenceu ninguém. Quando a Menina e o Príncipe se encontram, há tanto romance quanto entre Jennifer Aniston e Aaron Eckhart no filme "Love Happens" - depois de 109 minutos, "happens" um beijo, selinho!

Se a minha opinião for muito pedinte de justificativas técnicas, taí a do
Nassif.
E se você quiser arriscar, recomendo comprar no auditório. Assim você não se arrepende de ter gastando tanto por tão pouco...

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