Meu processo é meu fim - eu vim do futuro

 Os dias passam, o mundo gira e mais do que nunca a mudança é permanente

Me vejo diante dos mesmos processos, embora os desafios mudem e eu já não sei se envelheci a ponto de compreender que não verei, nunca mais, nada profundamente novo.

Sigo ininterrupta e inutilmente me esticando entre abismos. Menos personificados, é verdade, e mais coletivos. Mas com aquela velha sensação de descompasso entre  o ruim - de não aceitar o bloco das muitas vozes - e o pior - de não aceitar que tantas vozes ressoem uma nota só. 


Nada de novo, só diferentes constatações sobre novas situações: ou você engole o choro, cantando uma noite de carnaval na avenida digital e chorando o resto do ano no lençol geladinho bem material; ou você resiste à onda e sente toda a solidez da sua argumentação e do seu genuíno sentimento serem reduzidos à purpurina de uma acusação. Purpurina grudada em pele suada de temor.

Toda forma de conduta se transforma numa luta armada

Temor, velho conhecido toma diferentes formas. Mas eu conheço seu cheiro. É o cheiro da não aceitação, com notas de injustiça. O temor é mais sofisticado que a dor, porque assume o todo pelo meio. Você se rende a ele por medo de suas reverberações. Ele é desequilibrado e inconsequente. É dele a generalização, a hegemonização, a manipulação.   

Confunde prerrogativa com privilégio e o repete à exaustão. Me deixa confusa: é pra fazer reflexão ou romper o teto de algodão? Quando acho algo incoerente, eu não posso dizer não? É cortina de fumaça ou estou me igualando, numa desperdiçada discussão? 

De outro lado, como posso discordar do discurso como posse para assumir uma identidade, se a maior parte das nossas vivências modernas se dá pelo discurso? Nas redes - sociais ou nas de macramê - meu corpo é atravessado pela linguagem. Até na compreensão mística ou religiosa de mundo, o discurso é criador. Sabemos que a linguagem que adotamos pode nos vitimar preconceito de maior ou menor prejuízo, mas no fim das contas são nossos corpos que pagam a conta da violência. 


E o corpo da mulher, esse lugar comum, esse corrimão de escada rolante da EMTU, recebe desde a mão delicada, solícita e querida daqueles que a respeitam, até a mão suja, grossa, pesada e indesejada do patriarcado. 

Nada de novo. E tudo novo, outra vez. De novo sou flor. Mas hoje, sem pétala. 


Não há mais deus
nós somos deusas
somos muitas e somos fortes
o fogo que arde em meu centro 
me impulsiona, me leva ao céu
torne-me astronauta do cosmo
eu refaço o big-bang
eu recrio o universo
mexo os pauzinhos do tempo
nós levantamos das catacumbas
mas não como lázaro, aquele sarnento
e sim, e sim como cleópatra
mulheres livres, futuristas
embaixadoras da grande estrela pulsante
(Horrorosas Desprezíveis) 

 


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