Corpo gentil

 No altar do meu banheiro, fiz um espelho para me adorar

Sacramentada em minha prece, procurei traços de um extraordinário casual

Os rastros de vapores revelaram um seio desfocado, desnivelado, de tempos dedicado

Escorre água onde foi leite, foi criação

(não dessas lidas e invisíveis, de aparição. Mas dessas crias, femininas, laboração)

Bifurca a gota, deslinda estria da morada ventre:

meio do meu corpo, princípio do teu.

Meus dedos no portal da vida. 

Morri de prazer pra te conceber e de dor pra te receber.

Eu fui veículo das minhas próprias descobertas. Fui alimento, abrigo e guiança.

Peito pronto, pés e coração.

Na língua, saliva e gosto; na garganta sim e não.

Apaga a vela no altar do banheiro. Espelho seco.

O escuro esconde o casual extraordinário:

Um corpo gentil que grita seus ciclos e rebeldias em forma de mistério.

Tainá Bernard, Pexels

Esse poema foi selecionado para compor a 2ª edição do "Cadernos Poéticos", da Corallina Confraria Poética. Acesse a edição aqui: https://drive.google.com/file/d/18tVw9HIkhETYikhJmrHQ65OzPO_13MDt/view




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