Sobre a brevidade da intuição e o árduo e incessante caminho até a completa mediocridade

Ich bin der Ungelebte Traum
Ich bin die Sehnsucht, die dich Jagt
Ich bin der Schmerz zwischen deinen Beinen
Ich bin der Schrei in deinem Kopf
Ich bin das Schweigen, die Angst deiner Seele
Ich bin die Lüge, der Verlust deiner Würde
Ich bin die Ohnmacht, die Wut deines Herzenes
Ich bin das Licht, zu dem du einst wirst
So schnell du auch fliehst
So weit du auch kommst
Trägst du mich mit dir

Eu sempre soube das possibilidades de ser que eu tinha. Mas eu sempre fui uma pilantra. Pilantra porque eu queria tomar proveito de todo os lados, ao mesmo tempo. Eu me esticava cada vez mais para as extremidades. Eu fui cada vez mais longe, pra explorar minhas periferias. Isso porque eu adorava transitar, competência diplomática que meus pais e pares, até determinado momento da vida, nunca tiveram. Mas eu nunca tive coragem de romper com um dos lados. Quando a coisa ameaçava entornar, eu contornava. Eu sempre fui covarde. 
Mas uma virtude me norteava. Uma certa bondade, um desejo cego e obstinado de salvar alguém. Uma perseverança de mão dada com um tanto de longanimidade. Um pecado a si mesmo, coberto de serpentina gospel. 
E não bastava dar o lanche novinho, recém comprado pro mendigo. Tinha que ser algo maior. Tão grande e majestoso quanto a minha habilidade em teorizar a vida. O que melhor que meu amor, minha dedicação, minha juventude e idiotice? 
O mais engraçado é que quanto mais fundo eu descia nessa piração, mais abstrusas e entranhadas tinham que ser as experiências que eu chamo de "válvula de escape": volúpia, vaidade, viagens astrais e outros perigos. 
Ainda não sei o quanto disso reforçou minha bipolaridade ou o contrário. 
Eu só sei, hoje em dia, que tanta negação a si mesma e tanta aceitação pro outro cristalizou meu coração com uma alquimia demoníaca de xilocaína e morfina. Eu não sei mais diferenciar feridas, dosar sentimentos. Eu me causei uma lobotomia emocional!
Deve ser por isso que eu te procuro. A calmaria do teu olhar não poderia me causar maior dor. E dor, apesar de ser velha conhecida, nunca é confundida. Ela é rainha do passado no presente. É matrona dos sentidos, das ausências. Ela põe a loucura pra fora na vassourada, só pra te fazer sentir cada gota de sua deliciosa presença, no frio, sem dó.

(Sabrina, 2013)





*Este texto foi escrito por um leitor do blog Torre no Porão. Sabrina é um pseudônimo.


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