Out of me
Não é que eu encontre
sentido escrevendo ou caminhando. Percebo-os – ambos os exercícios – paralelos,
mas não rivais. Se um me leva ao mar e o outro a montanhas, não importa... mas
sim o mesmo céu que os cobre, ignorado; o mesmo asfalto que absorve seus
atropelados.
Acaricio estas teclas do mesmo modo a delibar a outra pele: sem expectativas e com olhos bem abertos à menor fenda de deleite momentâneo.
Acaricio estas teclas do mesmo modo a delibar a outra pele: sem expectativas e com olhos bem abertos à menor fenda de deleite momentâneo.
Não procuro mais me
reafirmar em quartos conjugados ou paredes solitárias; nem em escovas de dente
de cores opostas entrelaçadas, nem em pôsteres juvenis cheirando individualismo
de guarda-roupas.
A verdade é que não há opostos, não há caminhos; não há céu, asfalto, nem destino. Se tenho mais um caractere aqui ou mais um passo lá, ao final nada freia o tempo.
Vejo mais um pequeno risco púrpura sob minhas coxas; mais um desvio côncavo me acompanha as curvas. Elas, então, disformes, deformam-me e me transformam no que querem. Num não-eu que desvendo cotidianamente, tornando mais pueril os pequenos núcleos sensoriais, rodeados por marcas maliciosas de expressão.
E quanto mais busco descrevê-los, mais distante percebo-me deles: não estou em meu olhos, em meus dedos, em minha língua, em meus cabelos.
Estou fora de mim. E é lá onde me encontro.
A verdade é que não há opostos, não há caminhos; não há céu, asfalto, nem destino. Se tenho mais um caractere aqui ou mais um passo lá, ao final nada freia o tempo.
Vejo mais um pequeno risco púrpura sob minhas coxas; mais um desvio côncavo me acompanha as curvas. Elas, então, disformes, deformam-me e me transformam no que querem. Num não-eu que desvendo cotidianamente, tornando mais pueril os pequenos núcleos sensoriais, rodeados por marcas maliciosas de expressão.
E quanto mais busco descrevê-los, mais distante percebo-me deles: não estou em meu olhos, em meus dedos, em minha língua, em meus cabelos.
Estou fora de mim. E é lá onde me encontro.
eita como é difícil se encontrar... mais fácil perder, se perder, brincar de achar e distrair se enganando...
ResponderExcluirhoje uma pessoa me disse que a vida se encontra na respiração.
belo texto! me deu assim um pouquinho de medo e melancolia, mas deve ter sido um pouco da minha vontade que encontrou nas suas palavras acolhida.
saudades!!
Alguém também já me disse que a gente só passa pela experiência humana para aprender a respirar. Deve ser algo realmente importante! "Não tenha medo: nem tudo tem explicação; há mistério em quase tudo, nem todo veludo é azul".
ResponderExcluirVolta logo, pra gente fechar o ciclo da acolhida com um abraço bem apertado!
COMO DIZIA CARTOLA O MUNDO É UM MOINHO
ResponderExcluirAinda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar
Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és
Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai reduzir as ilusões a pó
Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés
Nada como o Cartola para falar, com propriedade, da vida, dos amores, dos dissabores... Mas sobre os sonhos, caro anônimo, pelo menos os meus, os guardo num relicário, sagrado e trancafiado, ilesos das expectativas. Neste meu lugar, eles servem de adereço a um universo paralelo, onde adormeço.
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